sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Educação ambiental em um dia de chuva

Segunda feira chuvosa em Porto Alegre. No dia anterior, eleições para presidência da República. Alegria para uns, tristeza para outros. Mas a vida continua. O professor toma dois ônibus para ir à escola aonde leciona na zona sul. Desce do primeiro na avenida Icaraí aonde espera o segundo, o lento Assunção. Ele sabe que a espera é demorada. Mas neste dia, a coisa parece pior: os alagamentos se agravaram com a incrível massa de santinhos de candidatos a diversos cargos eletivos jogados nas ruas. Muita sujeira e muita água, bocas de lobo entupidas, muita água e muita sujeira. Após desviar de alguns lançamentos d'água de automóveis que parecem ser guiados por indivíduos que não percebem nada ao seu redor, o professor consegue entrar no já atrasado Assunção. Apesar da sua agilidade, fica muito molhado, nervoso e atrapalhado. Com alguma demora junta o dinheiro e dá ao cobrador. Antes de passar na catraca observa uma mulher de aparência de uns 45 anos. Resfriada, ela tosse bastante e expele num pedaço de papel quantidade significativa de secreção pulmonar. Sem muitos cuidados, embrulha o papel, se lavanta e com muito esforço - muito esforço mesmo - a senhora consegue abrir a janela, em seguida lança a bolinha de papel janela a fora. Indignado, o professor cutuca a mulher e inicia um diálogo, com a voz elevada para que todos no ônibus possam ouvir:
- Você tem consciência do que fez?
- Do que você está falando? Respondeu a senhora, claramente perturbada mas tentando dissimular.
- Você sabe por quê eu estou molhado?
- Por causa da chuva.
O professor se irritou: - Sim, mas a sujeira nas ruas provocou o alagamento que você vê pela janela. Os carros passam e movimentam lateralmente grandes quantidades de água, molhando pedestres que andam pelas calçadas.
- É verdade. Disse a mulher, já mais dissimulada.
- E você é responsável por isso. Disse eu, ainda mais irritado. - Você tem consciência que todas as suas ações tem consequências, ou você não consegue pensar dessa maneira?
- Eu consigo sim, mas às vezes sai automático, a gente às vezes nem pensa no que tá fazendo.
- Então tente sempre que possível pensar no que faz, está bem?
- Eu vou tentar.
Mais aliviado, o professor senta-se num banco mais ao fundo do ônibus e espera o momento de descer enquanto observa a chuva pela janela.

Um comentário:

toda revolução inicia-se primeiro em nossa mente disse...

pior que ser o ente que dá o sermão é saber que dentro do onibus a maioria acha que é "tempestade em copo de água" DÁ esse exmplo pros filhos, que começam jogando papel pela janela dos ônibus e terminam queimando lixeiras e quebrando orelhões de madrugada...