Trecho de: "De como o senhorio apresenta as suas vastas glebas e garbos aos inquilinos", de Pádua Fernandes
Eu só gosto do que é sólido.
Por isso invisto em imóveis,
me enriquece o desabrigo.
Trecho de: "De como o senhorio apresenta as suas vastas glebas e garbos aos inquilinos", de Pádua Fernandes
Eu só gosto do que é sólido.
Por isso invisto em imóveis,
me enriquece o desabrigo.
Marcelo Fromer / Ciro Pessoa / Nando Reis / Sérgio Britto
Desde os primórdiosA governadora Yeda Crusius usando seu método de fazer calar seus alunos em sala de aula com os professores em manifestação na Praça da Matriz, no Dia da Bandeira, 19 de novembro. A vaia surgiu quando a governadora apareceu do lado de fora do Palácio Piratini.
Segundo a RBS, os manifestantes vaiavam quando o hino era executado. Quem estava por lá viu e ouviu: a vaia foi para a Yeda e não para o hino.
Durante a manifestação dos professores estaduais do dia 14 contra a transformação do piso salarial em teto salarial, proposto pela Governadora Yeda Crusius, a brigada militar acompanhoutodo o seu deslocamento desde o Gigantinho, local da assembléia, até a Praça da Matriz, local do seu término. Ma a companhia não serviu para proteger os professores. Nos céus o que se viu foi um helicóptero a baixas alturas fazendo bastante barulho para prejudicar a comunicação daqueles que seguiam a manifestação.
Essa tática é de uso comum quando se pretende abafar manifestações.Lamentável!
Por mais simples que essa afirmação de Leonardo Boff possa parecer àquele que a lê, ela é paradigmática. Digo isso, pois a leitura que faço das opiniões e posicionamentos da Zero Hora sobre a situação dos professores do Estado me provocam. Para entender melhor (ou não) essa situação, que pelo visto não acaba tão cedo, voltemos à afirmação de Boff.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto
Aqueles que interpretam determinado fato ou processo sempre se colocam numa determinada posição e a partir dela elaboram o seu raciocínio e seu discursso. Isso significa dizer que por vezes deixam escapar algumas vistas paisagísticas daquilo que é, antes de mais nada, visto. A partir do visto, e não do não visto – apesar do não visto, em muitos casos não deixar de ser contemplado, mesmo que não visto, mas imaginado sem ser visto – surgem as interpretações. Mas o que deixa a interpretação mais passível de ser questionada não é a simples dedução do visto pelo não visto, mas o posicionamento objetivo do intérprete sobre determinado ponto, ou seja, a sua crença de que ele esteja sobre uma posição privilegiada. Mas às vezes ele está.
E quem está numa posição privilegiada não é a classe média trabalhadora, quase que laboriosa, e sem voz ativa, que se coloca numa posição por simplesmente julgar ser esta posição mais privilegiada que outra. Privilegiados são aqueles que, por se colocar numa determinada posição se tornam privilegiados, pois não a simples dedução do visto pelo não visto leva ao privilégio – como acreditam os alienados – mas a objetividade de posicionamento e a conseqüente exposição, também objetiva, de sua interpretação acarreta no privilégio.
O que a Zero Hora quer mostrar
Esse é o caso da Página 10 de Rosane Oliveira. No domingo, 23 de novembro de 2008, a jornalista inicia seu texto Gestos e Símbolos, abrindo duas possibilidades, a de se colocar ao lado daqueles que criticam o autoritarismo de Yeda, simbolizado pelo gesto de silêncio feito aos professores grevistas que a vaiavam em frente ao palácio do Governo (gesto símbólico 1) e a de se colocar ao lado da governadora. A escolha é obvia.
Segundo Rosane, diferente de outros governadores, Yeda não tem preocupação em evitar o conflito com o Sindicato dos Professores. Pelo contrário, segundo a jornalista, a governadora e sua escudeira a secretária da educação Mariza Abreu, estão empenhadas em tocar naquilo que outrora era inviolável, um dogma, para usar as palavras do editorial, fazendo alusão ao posicionamento nada moderno das igrejas. O dogma no caso é a preocupação em evitar o conflito (gesto simbólico 2). Se a referência ao arcaico serve para criticar o Cpers, muito provavelmente a posição da jornalista, o seu ponto, é o mais próximo possível daquele em que se coloca Yeda, uma governadora racional e por isso moderna. Acreditando nas luzes que sobre o fato miram os holofotes do texto e esquecendo – ou escondendo – as sombras, o leitor é levado a crer que de fato, o melhor é acreditar na razão de um símbolo contra os dogmas chamado Yeda Crusius, e duvidar do intocável e anti-moderno Cpers Sindicato, símbolo do atraso do sistema educacional no país.